sexta-feira, fevereiro 18, 2005
Nei Duclós*
Poucas pessoas conheço
com amor no endereço
Poucas pessoas se lembram
do amor dobrado no lenço
Poucas pessoas confessam
o amor que já fez estrago
Poucas pessoas receitam
aquele amor sem remédio
Poucas pessoas agüentam
quando o amor estremece
Poucas pessoas enxergam
o amor de quebra no espelho
Poucas pessoas conservam
O beijo do amor ardente
Poucas pessoas entendem
a carta que o amor deixa
Poucas pessoas conseguem
Nenhuma delas esqueço
*Do primeiro editor, um jornalista nunca esquece. Especialmente quando se tem o privilégio de ser a aprendiz do melhor treinador, do mestre que todo repórter estagiário ou em início de carreira deveria ter. Daquele que te revela o mistério, mas não antes de você entender que para se dar valor aos atalhos, é preciso conhecer o caminho das pedras. Aquele que não te poupa críticas. Mas que sabe a hora exata de elogiar. Que não te dá moleza por um motivo muito simples: pra que você não se iluda. Te ensina que o lead certeiro pode te dar mais trabalho do que você imagina e que o melhor título então... pode-se levar horas para se descobrir. Agora, quando às qualidades de melhor professor que você poderia ter unem-se as qualidades de um ser humano e amigo espetaculares, de um romancista de primeira linha e que além de tudo é poeta, aí é covardia. Você se convence de que não existe no mundo, pessoa com maior sorte do que a sua.
Nei Duclós é jornalista, blogueiro (www.outubro.blogspot.com), autor do romance Universo baldio, dos livros de poesias No mar veremos, No meio da rua e Outubro, vovô da Maria Clara e meu primeiro editor. Não deixem de visitar seu site: www.consciencia.org/neiduclos.
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
Prefiro ser baleia!
A academia Runner tem um outdoor que diz o seguinte: Neste verão, você quer ser sereia ou baleia?Acabei de receber por email a excelente resposta enviada a eles por uma mulher e distribuída pela internet. É um manifesto inteligente e educado contra a insistente campanha "Faça qualquer negócio pra ter um corpo sarado e desejado". Se o bombardeio fosse pela importância da saúde, tudo bem. Mas a questão é tão somente estética. Haja psicológico pra suportar a comparação. Haja saco!!
Sereia ou baleia?
"Ontem vi um outdoor da Runner, com a foto de uma moça escultural de biquíni e a frase: Neste verão, qual você quer ser? Sereia ou Baleia?
Respondo: Baleias sempre estão cercadas de amigos. Baleias têm vida sexual ativa, engravidam e têm filhotinhos fofos. Baleias amamentam. Baleias nadam por aí, cortando os mares e conhecendo lugares legais como as banquisas de gelo da Antártida e os recifes de coral da Polinésia. Baleias têm amigos golfinhos. Baleias comem camarão à beça. Baleias esguicham água e brincam muito. Baleias cantam muito bem e têm até CDs gravados. Baleias são enormes e quase não têm predadores naturais. Baleias são bem resolvidas, lindas e amadas. Sereias não existem. Se existissem, viveriam em crise existencial: Sou um peixe ou um ser humano? Não têm filhos, pois matam os homens que se encantam com sua beleza. São lindas, mas tristes e sempre solitárias...
Runner, querida, prefiro ser baleia!"
domingo, fevereiro 13, 2005
E fecham-se as cortinas
Longe da agitação e das filas dos shoppings, distante do clima cool que atrai os freqüentadores da Paulista, o grande atrativo daquele dia, no cinema que já foi considerado o mais luxuoso da América Latina, era o preço. Em que outro seria possível pagar uma inteira de seis reais em pleno sábado à noite? O filme era Olga. A platéia pequena, mas diversa. A sala localizada no sexto andar, o acesso por um elevador antigo, assustador e, lógico, sem ascensorista. Perdemos os primeiros 15 ou 20 minutos de tela. A sessão já tinha começado. Mas o atraso era outro atrativo. Em que outro cinema poderíamos virar a sessão para assistir ao começo do filme ou mesmo revê-lo, sem precisar se esconder e ainda pagando só uma entrada? E o melhor, a três reais, com carteirinha de estudante?
Do filme eu não lembro detalhes. Fiquei tempo demais ocupada em observar uma figura enigmática que de tempos em tempos levantava da poltrona no meio da história em busca de um novo lugar. No começo, foi irritante. Mas depois, quase caí na tentação de acreditar na tal história da agulha besuntada de sangue deixada por aidéticos em poltronas de cinemas para contaminar os infelizes que ali sentassem.
No intervalo entre uma sessão e outra, o ar de abandono daquela sala e daquele prédio, assim como de tantos da região, cresceu. Com nada pra fazer e uma certa apreensão, a solução era ir ao banheiro (outro cenário de filme de terror) ou bater papo com o simpático moço da projeção. Tudo pronto para a próxima sessão e descobrimos que não éramos os únicos a repetir o filme. Com os mesmos passos lentos com os quais zanzou misteriosamente na sala, das cenas mais monótonas às de maior sofrimento e tensão, retorna a tal figura enigmática. Minha companhia, que até então se mostrava 100% tranqüila, empalidece. Só fui entender o porquê na saída, já no metrô. Uma palavra estava escrita com sangue fresco na parede do banheiro masculino: SIDA, sigla brasileira da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, mais conhecida pela sigla em inglês, Aids. Um frio me percorre a espinha com o comentário: “eu acho que quem escreveu foi o cara estranho que não parava de andar durante o filme.”
Estaria ele espalhando agulhas contaminadas? Não faço a menor idéia. Só sei que nunca mais voltei lá. Só de pensar nessa possibilidade, meu amigo se apavorava. Agora, não precisa mais. Desde o último dia 10, o Cine Ipiranga, bastião cinematográfico do centro de São Paulo, caiu no mais absoluto silêncio e chegou ao fim depois de quase 62 anos. Nada se sabe, ainda, sobre o seu futuro. Para ser reformado, é necessária uma autorização da prefeitura, já que o imóvel é tombado pelo Patrimônio Histórico do município. E sem uma bela revitalizada, reabri-lo não seria uma boa idéia. Os funcionários perderam seus empregos. Os assíduos e misteriosos freqüentadores perderam seus acentos. Os desavisados e curiosos perderam a chance de entrar, se encantar ou decidir não voltar nunca mais. E o centro de São Paulo perdeu parte da sua história.
quinta-feira, fevereiro 10, 2005
Essa tal felicidade...
Este texto não é meu. E acredito que também não seja do Mário Quintana, a quem é atribuído, mas gostei dele. Além do mais, me foi enviado por uma pessoa muito, muito especial.
"A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade.
Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade."
segunda-feira, fevereiro 07, 2005
Um desabafo
Por Roberta Sales*
Isso é viver?
Nossa luta diária é tão constante e insana que mal percebemos. Nos tornamos intolerantes, distantes, insensíveis. Nossas atitudes se tornam banais e, raramente, praticamos o novo. O cotidiano consome nossas energias e aos poucos nos vemos fazendo parte de um todo que pouco nos interessa. Abri-se mão das leituras, das descobertas, de um bom café com os amigos. Dificilmente nos permitimos um lanche no Vó Sinha para trocar algumas poucas palavras, já que "o tempo não para" como cantou Cazuza.
A busca incessante nos vence e, algumas vezes, nos ilude. As decepções e frustrações começam a tomar dimensões inesperadas. Começamos a nos ver como personagens dostoievskianos vivendo em tempos difíceis, burlando as situações indesejáveis e administrando, quando possível, os conflitos internos para não dar chance a loucura.
Loucura?! De que loucura fugimos, se vivemos na loucura? Na loucura do dia a dia, no agito de uma sociedade ambiciosa e consumista.
Viver sem tempo para os amigos imaginários de Ítalo Calvino é loucura. Não se deliciar com o sorriso de uma criança que corre e brinca nas tardes de domingo é uma perda. Não cantar e contar histórias, não expressar sentimentos e não entender as expressões dos sentimentos alheios, também é loucura.
Então, o que fazemos todos os dias? Por que corremos tanto e sempre dizemos: ESTOU BUSCANDO? Buscando o quê?
Eu quero correr e buscar a alegria . Chorar e gritar de emoção. Permitir a presença dos meus amigos em minha vida. Conhecer novos lugares, pessoas e vivenciar novas experiências, mas jamais quero perder a essência. Não posso perder a vitalidade, a sensibilidade e todos os dias quando me levantar quero dizer: Eu vivo!!!! Vivo com alguns versos de Borges (o pouco que conheço), com a poesia da Carlos Drumond Andrade, com as divertidas histórias de Fernando Sabino. Eu quero ser louca, mas louca pela descoberta de novas possibilidades como ser humano, como ser pensante. Quero contribuir para o mundo e contar as minhas histórias. Não quero agir como uma Macabéia. Contudo, não tenho como pretensão ser uma intelectual, seria apenas mais um título, nome ou qualquer coisa do tipo.
Depois deste desabafo, O resto é silêncio, como diria Érico Verissimo.
*Roberta Sales é minha grande amiga. Irmã desde os tempos da faculdade, e agora, presença constante na minha vida, mesmo à distância. Garota paciente e persistente que não me deixa esquecer que um simples email de bom dia tem uma importância gigantesca. Rô, não desista de mim, nem como sua sócia.
sexta-feira, fevereiro 04, 2005
Olha eu aqui outra vez
Queridos amigos,
Este é um post especial. É uma satisfação para os que escreveram cobrando de mim novos textos e um agradecimento aos fiéis amigos que não deixam de passar por aqui, mesmo sabendo da minha fama de não cumprir promessas e de saber que meu forte não é nem disciplina nem liberdade. Desde dezembro, meu silêncio é absoluto, mas prometi (e dessa vez não vou decepcionar) que a minha aparição por aqui, de fevereiro não passava. Cá estoy yo, entonces:
Roberta, Luiz Moraes e Paulinho, que nunca deixaram de cobrar o afinco e determinação que demonstrei no nascimento deste blog, vocês são insubstituíveis. Marcinho e Juan Carlos, visitas inesperadas que me encheram de alegria. Marcinho é um ser humano da melhor qualidade, 100%, amigo pra todas as horas, todas messsssssssmo, a Roberta que o diga. E Juan, o mais paciente e perseverante professor de inglês e espanhol que eu poderia ter (aqui vai um agradecimento de lambuja ao Maurício de Paiva, quem me apresentou o Juan). Maurício, ainda acho que você ganha comissão por essas empreitadas, rs.
Frank, meu querido, que demorou mas apareceu por aqui. A pessoa mais fascinante, tranqüila, aberta a novos conhecimentos, disposta a dividir as lições que aprendeu, humilde e carinhosa que tive o prazer de conhecer nos últimos tempos. Tenho certeza que um dia terei condições de retribuir à altura toda a atenção e paciência que teve comigo e aprender, de uma vez por todas, a jogar xadrez e tocar gaita, para que tenhamos muito o que fazer nas madrugadas paulistanas ou cearenses assim que eu abandonar minha carreira de dorminhoca. Só não se esqueça de me dar seu endereço em Fortaleza, quando for morar lá, rs. E não vá embora sem antes devolver a minha National Geographic, hein!!
Bom gente, era isso. Não vou me estender demais nem rasgar muita seda, senão daqui a pouco eu começo a chorar. Mas não deixem de passar por aqui depois do carnaval. Vocês vão ficar cansados de taaaaaaaaaaaaaaaaanta coisa pra ler. Ai, mais uma promessa. Não deixem de me ajudar a cumprir. Afinal, só funciono sob pressão... e sob paixão.
Beijos, beijinhos e beijões