Um desabafo
Por Roberta Sales*
Isso é viver?
Nossa luta diária é tão constante e insana que mal percebemos. Nos tornamos intolerantes, distantes, insensíveis. Nossas atitudes se tornam banais e, raramente, praticamos o novo. O cotidiano consome nossas energias e aos poucos nos vemos fazendo parte de um todo que pouco nos interessa. Abri-se mão das leituras, das descobertas, de um bom café com os amigos. Dificilmente nos permitimos um lanche no Vó Sinha para trocar algumas poucas palavras, já que "o tempo não para" como cantou Cazuza.
A busca incessante nos vence e, algumas vezes, nos ilude. As decepções e frustrações começam a tomar dimensões inesperadas. Começamos a nos ver como personagens dostoievskianos vivendo em tempos difíceis, burlando as situações indesejáveis e administrando, quando possível, os conflitos internos para não dar chance a loucura.
Loucura?! De que loucura fugimos, se vivemos na loucura? Na loucura do dia a dia, no agito de uma sociedade ambiciosa e consumista.
Viver sem tempo para os amigos imaginários de Ítalo Calvino é loucura. Não se deliciar com o sorriso de uma criança que corre e brinca nas tardes de domingo é uma perda. Não cantar e contar histórias, não expressar sentimentos e não entender as expressões dos sentimentos alheios, também é loucura.
Então, o que fazemos todos os dias? Por que corremos tanto e sempre dizemos: ESTOU BUSCANDO? Buscando o quê?
Eu quero correr e buscar a alegria . Chorar e gritar de emoção. Permitir a presença dos meus amigos em minha vida. Conhecer novos lugares, pessoas e vivenciar novas experiências, mas jamais quero perder a essência. Não posso perder a vitalidade, a sensibilidade e todos os dias quando me levantar quero dizer: Eu vivo!!!! Vivo com alguns versos de Borges (o pouco que conheço), com a poesia da Carlos Drumond Andrade, com as divertidas histórias de Fernando Sabino. Eu quero ser louca, mas louca pela descoberta de novas possibilidades como ser humano, como ser pensante. Quero contribuir para o mundo e contar as minhas histórias. Não quero agir como uma Macabéia. Contudo, não tenho como pretensão ser uma intelectual, seria apenas mais um título, nome ou qualquer coisa do tipo.
Depois deste desabafo, O resto é silêncio, como diria Érico Verissimo.
*Roberta Sales é minha grande amiga. Irmã desde os tempos da faculdade, e agora, presença constante na minha vida, mesmo à distância. Garota paciente e persistente que não me deixa esquecer que um simples email de bom dia tem uma importância gigantesca. Rô, não desista de mim, nem como sua sócia.
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