segunda-feira, abril 23, 2007

Apenas uma criança

Ele não tinha mais de dez anos e seu olhar já era cheio de ódio. Fixos na “vítima”, nem piscava. Só mudou os olhos de direção quando o motorista disse: tem polícia lá atrás. Mas foi rápido. Ele encostou no carro, aproveitando-se dos vidros abertos, e sem levantar as mãos e mostrar um objeto sequer, foi logo dizendo: “eu tô com o bagulho engatilhado aqui. Não tenta dar um de esperto. Passa tudo.” Hesitamos. Meu corpo ficou imóvel, meu cérebro parou de funcionar, só o coração disparou. Intolerante à idéia de ser roubado por um menino daquele tamanho, o motorista reagiu. Disse que não entregaria nada, engatou a primeira e tentou sair, mas o farol estava fechado e havia um carro na sua frente. Olhou o retrovisor, ninguém atrás. Engatou a ré e foi. Eu só imaginava o menino levantando o braço fino e fraco com o bagulho engatilhado na mão, pronto para cometer uma atrocidade (talvez não maior do que a sua própria, da miséria, do mundo injusto que entrega às ruas esses seres que deveriam estar estudando, brincando e, naquela hora, dormindo).

Por sorte, ele blefava. Na mão direita, somente uma inofensiva garrafinha de água mineral vazia, talvez usada para outra barbaridade: cheirar cola ou qualquer outra coisa que o valha. Aliás, vi no meio de uma noite de sábado, há cerca de um ano, um frentista do posto de gasolina localizado na esquina da Teodoro Sampaio com a Henrique Chaumann (é assim que escreve?) encher com álcool (sim, o mesmo que vc coloca no tanque do seu carro), uma garrafa para duas crianças também de no máximo dez anos. Agora me diga, pra quê?

Pétalas

Dizem que sou uma creança
Por ter apenas dez annos;
Que a vida me corre mansa
Cheia de doces enganos

Que sou ainda um menino
E, portanto, inda innocente,
Mas que sou muito ladino
E um gury intelligante.

Neste ponto têm razão
E por isso em poucos dias
Já cavei com alegrão
Centenas de sympathias

Podeis ver, sábios leitores,
Que não sou nenhum pateta! ...
Pois não vivo de louvores,
Faço versos, sou poeta! ...

Este poema não é meu e por hora desconheço sua autoria.