domingo, março 23, 2008

O amor não acaba*

O amor não acaba* O amor acaba? O cara disse. Numa esquina, num domingo, depois do teatro e do silêncio, na insônia, nas sorveterias, no elevador, como se lhe faltasse energia. Tenho dúvidas. Ele não volta? Não deixa rastro? Não renasce? Volta. Na esquina em que se beijaram uma vez, lá está ele, na sombra perdida pela luz, na poeira suspensa, na revolta da memória inconformada. Uma lembrança. Na solidão do domingo, lá vem ele, volta, com lamento, um quase desespero, e penso nos planos perdidos, que vida sem sentido... No teatro, no palco de história de amor, no cinema, na tela com beijos e risos, na TV, que inveja... Já tive um amor igual. Onde ele se escondeu? E, pior, por quê? Na insônia, o amor cai como uma tonelada de lápide, e se eu tivesse feito diferente, e se eu tivesse sido paciente, e se eu tivesse insistido, suportado, indicado, transformado, reagido, escutado, abraçado? Seu choro, no meu ombro, foi tão recusado. Na sorveteria, ele volta, o amor em lembrança. Porque aquele sabor era o preferido dela, aquela cobertura era a preferida dela, aquela sorveteria era a preferida dela, assim como aquela esquina, aquele bairro, aquele clima, aquela lua, aquele mês, aquela temperatura, aquela raça de cachorro atravessando a rua, aquele programa de fim de tarde e aquele horário sem planos pra noite. Ela adora ficar na cidade no feriado, torce para barreiras e pontes caírem, e ninguém voltar nunca mais. Uma cidade só pra ela, um bairro, aquela rua, a sorveteria. Aquele cachorro brincando com ela. E eu só pra ela. No elevador, quantas saudades daqueles segundos em silêncio, presos na caixa blindada, vigiados por câmeras camufladas, loucos para se agarrarem, rirem, apertarem todos os botões, tirarem a roupa, escreverem ao lado do Atlasado: “Eu te amo”.

Saudades é amor. Não se tem saudades do que não se ama. Ou amou. O amor não acaba, porque tenho saudades, me lembro dela todos os dias, me preocupo com ela, torço por ela, e se sonho com ela, meu dia está feito. O amor não pode acabar, porque sem ela ou sem a esperança de revê-la, até a chance de tê-la de volta, minha guerra não tem fim. Ela é uma trégua na minha guerra pessoal contra a minha paixão por ela. Amá-la me faz bem. Mesmo que ela não me ame. Amo amá-la. Continuei amando desde o dia em que terminou. Passei meses amando como se não tivesse acabado. Ficaria anos amando mesmo se não tivesse voltado. O amor não acaba, muda. O amor não será, é. O amor está. Foi. Nas tantas músicas que ouvimos juntos, que dançamos colados, trilhas das noites frias em que você sentava em mim nua, enquanto os meus braços imobilizavam os seus.

Amor. O não-amor é o vazio. O antiamor também é amor. Nas minhas mãos frias aquecidas pelas suas. Eu te amava quando você respirava no meu ouvido. Amo-te, amo-te, amo-te.

Suor naquele instante secreto, quando sua boca incha, seus olhos apertam, suas unhas me arranham e você diz, com tanta verdade: Eu te amo! O amor acabou quando você se foi? Fala a verdade... Você sentiu saudades das minhas paredes, das cores das minhas camisas, da umidade da minha boca, do cheirinho do meu travesseiro, da minha torrada com mel, do meu endereço, das tantas noites pelados assistindo à televisão, dos vinhos entornados no lençol e pelo chão, do café da manhã com jornal, do lanche improvisado, você sentiu falta de atravessar a avenida comigo de mãos dadas, de correr da chuva, de eu te indicar aquele livro, do cinema gelado em que vimos aquele filme sem fim, torcendo para acabar logo e ficarmos a sós, você sentiu falta da minha risada, da minha inconveniência, da minha mancha, de eu ser seu amante, seu noivo, seu amigo e marido, dos meus olhos te espiando, dos meus dentes te mordendo e mastigando, ficou tanto tempo longe de mim e pensou em nós todas as madrugadas, especialmente bêbada ou louca, queria me ligar, me escrever, meu cheiro aparecia de repente, meu vulto estava sempre ali presente, acaba? Diz que acaba.

Como acaba? Não acaba. Diz, não acaba. Repete. Falei. Não acaba. Pode virar amor não correspondido. Pode ser amor com ódio, paixão com amor. Pode vir em muitas embalagens e tamanhos. Só tenho uma certeza. Tem o amor e o nada. Ah, mais uma coisa. Antes que eu me esqueça. O amor não acaba. Vira. Sorry. Se acabar, não é amor.

* Marcelo Rubens Paiva, inspirado em Paulo Mendes Campos

quarta-feira, novembro 14, 2007

50 boas idéias!

LAR ANTENADO.
Pinte uma parede da sua casa com a cor da moda e mude a cada nova estação. Para começar, aposte no verde, o tom do verão.

DECORE SEM GASTAR MUITO.
Percorra bazares e feiras de antigüidades e misture móveis antigos e novos. Ou peça com jeitinho e sua mãe não vai negar aquela cristaleira.

MOBÍLIA CHOCANTE.
Ambientes totalmente bege ou brancos já eram, avisa o decorador Marcelo Rosenbaum. É o máximo ter um móvel de cor forte para causar impacto.

FAÇA UMA POSE.
E solicite a um bom desenhista que retrate você. Recupere o hábito medieval do portrait, só que com um traço moderno.

DÊ PRESENTES.
Pode ser um livro, um doce, uma lembrança qualquer. Presentes, sem motivo nenhum, fazem bem a quem dá e a quem recebe.

MIME A SI MESMA.
De vez em quando, puxe para o carrinho do supermercado alguns caprichos. Um queijo especial, aquele patê importado... Enfim, delícias que valem cada caloria ingerida.

DESFAÇA O BICO.
Por mais óbvios que sejam os motivos, os homens nunca sabem por que estamos bravas. Portanto, na próxima pisada de bola do fofo, saia com as amigas e relaxe. Ficar bicuda é inútil.

APRENDA A COZINHAR.
Não precisa virar uma chef, mas tenha ao menos quatro especialidades para se garantir em ocasiões especiais – ou para satisfazer você mesma.

ENSINE A COZINHAR.
Se você já domina as panelas, é hora de ter um assistente: seu namorado ou marido, claro. Cozinhar a dois é mais divertido, diz a banqueteira Nina Horta.

ENCHA A CASA DE FLORES.
Mas não vale comprar só em floriculturas caras. A graça é passear em feiras e fazer seus próprios arranjos.

FILME-SE.
Registre seus movimentos, assista a gravação e veja como você pode melhorar sua postura.

AMPLIE SEUS HORIZONTES.
Quando for comprar CDs, circule pelas prateleiras de música francesa, africana e outras menos convencionais. Você pode fazer ótimas descobertas.

BOTE A BOCA NO TROMBONE.
O produto não funcionou? O atendimento foi ruim? Reclame com quem for preciso. Dá trabalho, mas é muito melhor do que engolir sapos.

COMA CHOCOLATE VERDADEIRO.
Já que vai cometer o pecado, cometa com classe. Nada de gordura vegetal no lugar de manteiga de cacau. É mais caro, mas você pode saborear devagar e comer menos.

CONQUISTE-SE.
Declare seu amor por você mesma com um anel de diamantes. Na H. Stern, você começa com um pequenininho e pode chegar a um grandão até o fim de 2007, trocando sucessivamente uma jóia da coleção de diamantes da marca por outra de maior valor (pagando a diferença).

TENHA UMA CARREIRA SOLO.
Convenhamos, andar em turma é muito teen. A única companhia que você precisa para sair e se divertir é uma dose de autoconfiança.

USE O OLFATO.
Dica do professor de aromaterapia Fernando Amaral: para noites mais calientes, pingue cinco gotas de óleo essencial de ilangue-ilangue e cinco de sândalo (que atuam nos hormônios sexuais) em um difusor no quarto.

MUDE O SCRIPT.
Apague o que não gosta no seu dia-a-dia, troque os cenários, inclua personagens. "Você é o roteirista de sua rotina", ensina a atriz e poetisa Elisa Lucinda.

OTIMIZE OS GASTOS.
Avalie o quanto você de fato usa o celular, a internet e a TV a cabo e veja se não é melhor optar por planos com menos horas ou canais incluídos.

PRÊMIO ABSTINÊNCIA.
Parou de fumar? Então, poupe o que você gastava com cigarro. Se você fumava um maço por dia, pode guardar cerca de R$ 75 por mês. Em um ano, você vai ter R$ 900 (fora os juros) para torrar no que quiser.

FREQÜENTE O MUNDO REAL.
A internet ajudou você a localizar uma velha amiga? Agora deixe as conversas virtuais e marque um encontro em carne e osso.

ORGANIZE OS ÁLBUNS DE FOTOS
É uma delícia rever lugares e pessoas. Papelarias especializadas, como a paulistana Paperchase (tel. 11 3842 3519), vendem vários acessórios para álbuns.

TENHA UM DIA DE RICA.
A idéia é relaxar e se cercar de mimos: sais de banho, cremes e, importantíssimo, um roupão. "O melhor de tudo é tomar um drinque usando roupão. Você se sente parte do núcleo rico da novela das 8", ensina o trio 02 Neurônio no Manual para Moças em Fúria (ed. Record).

DESPLUGUE-SE.
Passe um dia sem eletricidade. Esqueça a internet, tire a TV da tomada, acenda velas e curta o clima de paz. Pensando bem, o banho quente está liberado.

DÊ UM PASSO ADIANTE.
Quando o assunto é homem, saia da sombra. "Dar o pontapé inicial faz a diferença. Não fique esperando, pois os tempos mudaram", diz a psicóloga Nina Eggen, dona da agência de relacionamentos Quase Acaso.

PROGRAMA BARATINHO.
Organize sessões de DVD com os amigos e monte seu acervo. A trilogia O Poderoso Chefão é uma ótima pedida para começar a coleção.

SEJA UMA GAROTA APLICADA.
Crie coragem e faça uma aplicação programada: uma vez por mês, parte do seu dinheiro sai da conta e vai automaticamente para o seu fundo de investimento. É quase indolor.

INVISTA EM UMA PREVIDÊNCIA PRIVADA.
Quanto antes você começar, menores são os depósitos e maiores os rendimentos. Mexa os pauzinhos e evite rugas de preocupação.

VOLTE PARA A ESCOLA.
Pós-graduação, línguas, arte. Estudar é ótimo para seu currículo e sua vida social.

NÃO GENERALIZE.
Evite dizer frases como "Só dá anta aqui!", aconselha o psicólogo americano Allan Elkin, autor de Feliz Cidade – Viva sem Estresse na Metrópole (ed. Publifolha). "Ao generalizar, criamos uma idéia distorcida da cidade e seus habitantes e ficamos ainda mais estressados", escreve ele.

BABA, BABY.
Que tal ser a babá do anjinho da sua amiga por um dia? É uma maneira de perder calorias e uma preparação para o futuro – ou uma lição para adiar certos planos.

TENHA UM JOGO DE TABULEIRO.
É tão essencial quanto um jogo de xícaras. Desenterre seu War, compre ou rapte algum do seu priminho.

FAÇA VIAGENS CURTAS.
Não espere pelas férias. Qualquer fim de semana é bom para uma miniviagem ou um passeio, como ir almoçar num restaurante na cidade vizinha.

DÊ PITI.
Dica do livro 101 Experiências de Filosofia Cotidiana (ed. Sextante), do filósofo francês Roger-Pol Droit: simule um acesso de fúria sem motivo. Xingue, esbraveje, bufe. Depois pare, respire, beba água e lembre-se de que um ataque de raiva não passa disso.

ESCREVA UMA CARTA.
Quando a gente escreve a mão, reflete mais do que teclando no micro. Desenferruje os dedos e o cérebro.

CONHEÇA SEU BAIRRO.
Sua vizinhança deve ter outros pontos interessantes além da padaria. Lembre-se de curtir seu bairro a pé.

TENHA LIVROS LINDOS
por dentro e por fora. Publicações de arte, moda e decoração enfeitam a casa e são perfeitas para aquele momento de relax.

SEJA BOA VIZINHA.
Ainda que você não queira virar a melhor amiga do cidadão que mora ao lado, ambos têm a ganhar com uma troca de telefones – no caso de uma emergência, ele chega antes dos bombeiros.

OS BONS TEMPOS VOLTARAM.
Que tal reunir as amigas para um chá da tarde? Compre docinhos, pães, sucos, jogue muita conversa fora e finja que ninguém trabalha.

"FAÇA UMA LISTA NEFASTA",
sugere a escritora Bárbara Reiter, autora de Poder Feminino (ed. Matrix). Enumere as coisas das quais você quer se livrar (defeitos, gente, situações chatas), amasse o papel e toque fogo nele, mentalizando tudo o que está saindo da sua vida.

ESCOLHA AS PALAVRAS.
É mais eficaz dizer o que você quer, em vez de falar o que você não quer, garante Gilberto Cury, presidente da Sociedade Brasileira de Programação Neurolingüística. Explica-se: se pedirem para você "não pensar em um canguru", você logo imagina o bicho. Da mesma forma, se você diz: "Não vamos brigar", é provável que o tempo esquente. Para saber mais, acesse:
www.pnl.com.br.

COMEMORE COM MOTIVO.
Depois que a festa começa, ninguém se lembra do stress dos preparativos. Espante a preguiça e celebre seu aniversário com um festão daqueles de entrar para a história.

COMEMORE SEM MOTIVO.
A dois, com alguns poucos bons amigos ou mesmo sozinha, abra uma garrafa de champanhe. Razões para brindar sempre há.

TENHA UM BLOCO À MÃO
para anotar o nome de livros e filmes que você quer ler e assistir. Assim, você evita o mico de ficar olhando as prateleiras, tentando se lembrar da dica que o seu amigo deu no mês passado.

CHEGA DE CORPORATIVISMO.
Essa história de médico só andar com médico, jornalista com jornalista e por aí afora é um atraso de vida. Diversifique suas amizades e amplie seus conhecimentos gerais.

QUEBROU? ARRUME JÁ.
Depois do conserto feito, a gente percebe que não precisava passar tanto tempo com a porta do armário capenga ou com a torneira vazando. Às vezes, gasta-se mais energia protelando do que resolvendo o problema.

TENHA UM KIT PREGUIÇA.
Um pijama de flanela, uma manta macia, máscara relaxante... Os dias de ócio podem ficar bem mais proveitosos.

ATUE PELA NÃO-VIOLÊNCIA.
O site www.comitepaz.org.br, da Unesco, traz uma lista com 64 maneiras de praticar a não-violência, com idéias de celebridades que vão de Gandhi ao cineasta Spike Lee.

TENHA UM HOBBY.
Tem gosto para tudo. Descubra o seu e tenha uma alternativa para se divertir e relaxar.

NÃO PENSE. DANCE.
Na sala, na cozinha, no banheiro: som nas alturas e você requebrando. Alguém tem alguma coisa a ver com isso?

**Fonte: Revista Elle, dezembro de 2004 Por Patricia Oyama, Simone Esmanhotto e Susana Barbosa

terça-feira, outubro 16, 2007

Loucos e santos*

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

*Uma homenagem fora de hora aos meus amigos, aos de perto e aos de longe, aos que foram, aos que ficaram, aos que ainda virão. Amizande é mesmo uma coisa pra se guardar, do lado esquerdo do peito, já dizia a canção.

sábado, outubro 06, 2007

Nunca é tarde para mudar

Seu Edson* é um homem daqueles tradicionais. Nasceu no sertão da Bahia no final da década de vinte e acredita(va) que a mulher tem seu papel dentro de casa (a de cuidar) e o homem o seu (o de sustentar). Passou toda a sua vida sem lavar um copo, enxugar um prato ou varrer uma sala. Cada um tem a sua função e a sua, pensava ele, não era essa, mas de Maricota, sua doce e encantadora esposa. E assim foi.

Até que um dia pode conhecer um outro casal. Ela paranaense, ele americano, piloto de avião de uma grande companhia internacional. Enquanto o marido trabalha, a mulher cuida das tarefas domésticas e dos filhos. E quando ele volta, é ela quem sai para trabalhar e as responsabilidades são trocadas. Nesta rotina, sempre que ele assumia os filhos e o lar, notava que as janelas dos vizinhos estavam sempre sujas. E assim, não só se ofereceu para limpa-las como começou a cobrar por isso.

Quando ouviu essa história, alguma coisa aconteceu no coração e nas conexões neurológicas do Seu Edson. E Maricota quase caiu para trás quando encontrou o marido limpando uma janela num dia e enxugando uma louça no outro. E se engana quem pensa que sua intenção é colocar uma plaquinha na portaria do prédio em que mora dizendo: “Limpa-se vidros e janelas”.

A conclusão a que Seu Edson chegou ao refletir sobre a experiência do novo amigo é porque ele não podia diluir sua antiga convicção (machista) na água da chuva e deixar a enxurrada levar embora, se alguém que ocupa um cargo importante, tem uma vida confortável e não precisava dividir as tarefas com a mulher e pagar alguém para isso, era tão mais flexível em sua maneira de agir diante da vida?

E assim fez. A história é muito simples, mas a lição, uma das mais bonitas que já ouvi. É possível abandonar as idéias absolutas, ampliar a consciência, mudar sua perspectiva, ser mais flexível e descobrir que a vida está em movimento, aos 8 ou 81 anos de idade. Ao contrário do que pensam os pessimistas, sempre há tempo!!

E como disse Marcel Proust, “uma verdadeira viagem de descobrimento não é encontrar novas terras, mas ter um novo olhar”.

*Seu Edson é meu tio. Aos 81 anos de idade, é uma das pessoas mais lúcidas que conheço, o único que conseguiu me ajudar a reconstituir boa parte da minha árvore genealógica paterna. É forte como um touro e ainda dirige de Curitiba a São Paulo (com glaucoma e tudo).

sexta-feira, julho 06, 2007

O amor não tem pressa

Chico Buarque

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

sexta-feira, abril 27, 2007

Ué, mas não era a igreja a defensora dos fracos e oprimidos?

Folha de S.Paulo, 16 de abril de 2007.
Mendigos terão de deixar Sé durante visita do papa
Segundo PF, acesso à praça antes de evento na catedral será vetado por segurança

segunda-feira, abril 23, 2007

Apenas uma criança

Ele não tinha mais de dez anos e seu olhar já era cheio de ódio. Fixos na “vítima”, nem piscava. Só mudou os olhos de direção quando o motorista disse: tem polícia lá atrás. Mas foi rápido. Ele encostou no carro, aproveitando-se dos vidros abertos, e sem levantar as mãos e mostrar um objeto sequer, foi logo dizendo: “eu tô com o bagulho engatilhado aqui. Não tenta dar um de esperto. Passa tudo.” Hesitamos. Meu corpo ficou imóvel, meu cérebro parou de funcionar, só o coração disparou. Intolerante à idéia de ser roubado por um menino daquele tamanho, o motorista reagiu. Disse que não entregaria nada, engatou a primeira e tentou sair, mas o farol estava fechado e havia um carro na sua frente. Olhou o retrovisor, ninguém atrás. Engatou a ré e foi. Eu só imaginava o menino levantando o braço fino e fraco com o bagulho engatilhado na mão, pronto para cometer uma atrocidade (talvez não maior do que a sua própria, da miséria, do mundo injusto que entrega às ruas esses seres que deveriam estar estudando, brincando e, naquela hora, dormindo).

Por sorte, ele blefava. Na mão direita, somente uma inofensiva garrafinha de água mineral vazia, talvez usada para outra barbaridade: cheirar cola ou qualquer outra coisa que o valha. Aliás, vi no meio de uma noite de sábado, há cerca de um ano, um frentista do posto de gasolina localizado na esquina da Teodoro Sampaio com a Henrique Chaumann (é assim que escreve?) encher com álcool (sim, o mesmo que vc coloca no tanque do seu carro), uma garrafa para duas crianças também de no máximo dez anos. Agora me diga, pra quê?

Pétalas

Dizem que sou uma creança
Por ter apenas dez annos;
Que a vida me corre mansa
Cheia de doces enganos

Que sou ainda um menino
E, portanto, inda innocente,
Mas que sou muito ladino
E um gury intelligante.

Neste ponto têm razão
E por isso em poucos dias
Já cavei com alegrão
Centenas de sympathias

Podeis ver, sábios leitores,
Que não sou nenhum pateta! ...
Pois não vivo de louvores,
Faço versos, sou poeta! ...

Este poema não é meu e por hora desconheço sua autoria.