quinta-feira, novembro 18, 2004

Crio, logo existo

Não gosto da revista Veja, quero deixar isso bem claro aqui. Mas de vez em quando uma matéria ou outra pode ser útil. Até ajuda a acender a lâmpada da inquietude, dar uma idéia e me levar a algum lugar, nem que seja ele a frente do computador, para escrever mais um textinho no meu "brog". A matéria que reproduzo na íntegra, abaixo, por exemplo, diz coisas importantes. Ela está guardada há mais de um ano nos meus arquivos. Acabei de achá-la sem querer. No ano passado, fui convidada a participar do projeto de uma nova revista. As pautas valorizavam o poder de inovação e criatividade dos brasileiros. Em vez de falar com os diretores, gerentes e donos de grandes empresas, que muitas vezes estão lá pra cumprir um protocolo e encher nossos ouvidos (que, de uma vez por todas, não são pinicos) de bobagens, escolhemos quem efetivamente coloca a mão na massa, cria, entende do seu ofício sem firulas e fornece as informações para o cargo mais alto da pirâmide hierárquica sair bonitão na foto. Os melhores ficam escondidos atrás dos bastidores. O editor da revista piloto que preparávamos, nos indicou a leitura. A reportagem da Veja fala sobre a capacidade de criação e inventividade do brasileiro. Não aquela impalpável, mais voltada à fantasia. Mas aquela que quando posta em prática, abala uma estrutura, mexe na rotina e promove uma mudança. "Se nem sempre é possível mudar o mundo com uma idéia, freqüentemente é possível melhorar a própria vida." Conseguimos produzir um número da revista (aquele projeto que mencionei lá em cima). Ficou linda. Pautas maravilhosas, apuração, textos e edição, melhores ainda. Projeto gráfico, primoroso. Equipe, nota 10. Todos, editores, repórteres, fotógrafos e designer gráfico, talentos soltos, sem o devido reconhecimento, mas unidos nesse ideal que ainda não foi pra frente por falta de apoio (lê-se grana), e que foi uma baita satisfação realizar. Uma hora, ele desencanta. Bom, chega de trololó. Vamos à tal matéria da Veja. A idéia que mudou a minha vida: a criatividade é a chave para se destacar do rebanho. Aprenda a usar a sua em benefício próprio Crio, logo existo. Essa adaptação da máxima do filósofo francês René Descartes traduz com fidelidade o que ocorre no mundo do trabalho nos tempos atuais. Para ter sucesso, não basta ser competente e dedicado. No mundo de hoje, são muitos os que têm essas duas qualidades. Além delas, é preciso ser criativo. Esse item faz a diferença. "É a criatividade que tira o profissional do sopão dos medíocres", diz Francisco Britto, um dos sócios da consultoria paulista BW, especializada em gestão de talentos – ramo que surgiu justamente para atender às novas necessidades das empresas. Pense em seu círculo de amigos. Eleja ali três pessoas que se destacaram em suas atividades – quaisquer que sejam. É grande a possibilidade de que, por trás dessas histórias de sucesso, se encontrem profissionais inventivos, capazes de superar a rotina. Um empreendedor que percebeu, antes dos concorrentes, a necessidade de colocar um novo produto no mercado. Um executivo que, dentro de uma empresa, descobriu um novo filão de negócios. Um cientista que desenvolveu uma nova tecnologia em laboratório e atraiu o interesse de investidores de peso. As pessoas bem-sucedidas são competentes e dedicadas – se não o fossem, já teriam sido expelidas do mercado das profissões. As que aparecem com realce, no entanto, costumam ter também boas idéias. É assim que se destacam do rebanho. São o inverso dos acomodados, os medíocres que constituem a maior parte da força de trabalho e ajudam a manter o mundo girando sem, no entanto, alterá-lo de alguma maneira. A criatividade é a ferramenta que forjou o mundo. Ela está presente em tudo o que é humano. Graças a pessoas criativas, foram inventados a roda, a caneta esferográfica, o computador em que esta reportagem foi escrita e uma infinidade de outros objetos que parecem existir desde sempre. Para não falar dos sistemas filosóficos, das teorias econômicas e das hipóteses astronômicas. Criatividade é uma extensão da inteligência. A especialista inglesa Margaret Boden, autora de um dos melhores livros sobre o tema, The Creative Mind (A Mente Criativa), define inteligência como a capacidade de armazenar e manejar adequadamente um vasto volume de dados. A criatividade seria o poder de síntese, ou seja, a faculdade de combinar esses dados para obter algo novo e útil. Mal comparando, uma pessoa inteligente vê estrelas e sabe dizer o nome delas, enquanto um ente criativo consegue enxergar os desenhos que as constelações formam. O físico alemão Albert Einstein, formulador da teoria da relatividade, definia seu trabalho como uma "arte combinatória". Essa habilidade em juntar elementos, linguagens ou áreas do conhecimento está por trás das principais descobertas científicas e criações artísticas. O engenheiro alemão Werner von Braun levou o homem à Lua combinando a ciência da fabricação de bombas – que havia aprendido enquanto servia ao regime nazista – com princípios de navegação aérea. Os florentinos criaram a ópera, no século XVI, misturando as artes da música e da encenação. Às vezes uma necessidade imediata está por trás de uma idéia engenhosa. Viciado em bridge, o lorde inglês John Eduard Montague inventou o sanduíche porque não queria parar de jogar na hora do almoço. Os casos acima, em diferentes medidas, mudaram o mundo – afinal, até hoje as pessoas assistem a óperas e comem sanduíches (de preferência não ao mesmo tempo), enquanto da tecnologia dos foguetes surgiram as sondas e os ônibus espaciais. Mas a criatividade não é atributo apenas de artistas e cientistas. Em maior ou menor grau, ela é inerente ao ser humano. Se algumas pessoas desenvolvem o seu potencial criativo, enquanto outras não, isso se deve a um fator primordial: o prazer de pensar. Para alguém criativo, ter uma boa idéia é, antes de tudo, agradável e gratificante. Como dizia o cientista italiano Galileu Galilei na peça do alemão Bertolt Brecht, "pensar é um dos maiores prazeres da raça humana". Se nem sempre é possível mudar o mundo com uma idéia, freqüentemente é possível melhorar a própria vida. E é no ambiente de trabalho, onde os seres humanos passam a maior parte do dia e são constantemente colocados diante de desafios, que esses pensamentos transformadores surgem com maior freqüência. Você é criativo? E, afinal, o que define um profissional criativo? Os especialistas concordam em alguns pontos. Primeiro: é alguém dotado de curiosidade. Alguém que, ao receber uma tarefa, não se limita a cumpri-la da maneira que o chefe mandou. Quer saber por que está fazendo aquilo e como seu trabalho irá repercutir nas outras áreas da empresa. Tome-se o caso de Wilson Maciel Ramos e Márcio Zapparoli, da companhia aérea Gol. Uma segunda virtude é a inquietude. O profissional criativo não se contenta em fazer apenas o que se espera dele. O que se espera, por exemplo, de um advogado? Que, baseado em seu conhecimento das leis, oriente corretamente seus clientes. Um advogado criativo, no entanto, cruza códigos jurídicos, caça dubiedades forçando a revisão das leis estabelecidas – o que, em última análise, faz com que o direito evolua. Enquadra-se nessa categoria a tributarista Luciana Rosanova Galhardo, sócia do conceituado escritório paulista Pinheiro Neto. Uma terceira característica é o realismo. A visão clichê de uma pessoa criativa é a de alguém sonhador, que evita as tribulações do mundo real. Isso é uma bobagem. Um profissional criativo é aquele que sai a campo, confronta-se com a realidade – e esse choque acende a faísca das novas idéias. É o caso de Eliane Macari, que trabalha na área de marketing da 3M brasileira, baseada na cidade de Sumaré, em São Paulo. "Um profissional criativo é sobretudo alguém que, diante de um problema, levanta diferentes alternativas, em vez de limitar-se a soluções conhecidas de antemão", resume a professora Tania Casado, coordenadora do centro de carreiras da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. Existe uma revolução em curso no mundo das profissões. O professor americano Richard Florida, da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, escreveu sobre ela no livro The Rise of the Creative Class (A Ascensão da Classe Criativa). A tese de Florida é que a era do conhecimento testemunha o nascimento da "cultura criativa", em oposição à "cultura corporativa". Na época atual, a capacidade de realizar tarefas corretamente não é mais a mercadoria que os empregados vendem aos empregadores. Isso seria a característica da cultura corporativa, com suas empresas altamente hierarquizadas. Na era criativa descrita por Florida, as pessoas vendem, acima de tudo, sua capacidade de pensar. Espera-se mais de um profissional hoje do que no passado. "As profissões estão mais estressantes, mas são também muito mais interessantes, mais prazerosas", disse Florida a VEJA. "E o novo mundo do trabalho não é apenas uma corrida por melhores salários, mas também por desafios. Os profissionais querem ter o prazer de criar uma obra de arte inédita, um produto novo, um experimento científico em que ninguém tinha pensado antes." Em sua pesquisa, Florida constatou que um profissional criativo estimula seu cérebro também nas horas de lazer. Ler bastante, freqüentar cinema e teatro, viajar para conhecer outras culturas, ter um hobby que exige atenção constante – como jogos de computador ou esportes radicais – constitui um padrão entre os que são bem-sucedidos. Nos Estados Unidos, a busca de estímulos faz com que essas pessoas se concentrem em cidades de vida cultural intensa e ambiente tolerante. Um caso clássico, citado em reportagem da revista Newsweek sobre o assunto, é o da cidade texana de Austin. No fim dos anos 70, surgiu lá um importante movimento de rock de garagem. Isso fez com que empresários se animassem a construir uma grande casa de espetáculos na cidade. Com todos esses atrativos, Austin se tornou uma meca da juventude no sul dos Estados Unidos. Na hora de escolher um lugar para instalar seu quartel-general, a empresa de informática Dell – hoje uma das gigantes do ramo – decidiu-se por Austin justamente por causa disso. O silogismo: jovens gostam de computadores, informática é um setor para pessoas criativas, e roqueiros em geral são jovens e criativos. Florida observa também o crescimento dos profissionais pagos apenas para ter idéias. Estão nesse campo os consultores em várias áreas e, principalmente, os cientistas contratados pelas empresas para desenvolver novos produtos e tecnologias. Estes constituem a face mais evidente da classe criativa. É um fenômeno ainda típico de países do Primeiro Mundo. "No Brasil, quando alguém fala que é cientista, as pessoas perguntam a qual universidade ele pertence. Nos Estados Unidos, quando digo a minha profissão, logo querem saber para qual companhia eu trabalho", conta o carioca Henrique Malvar, que atua desenvolvendo novos produtos para a Microsoft, em Seattle. A idéia que mudou a sua vida foi criar, há alguns anos, uma câmera para transmissão de videoconferências em que a objetiva se dirigia automaticamente ao lugar de onde vinha a fala. Reluzindo em seu currículo, a proeza ajudou a despertar o interesse da empresa de Bill Gates. Malvar teve de emigrar para os Estados Unidos para exercitar suas habilidades de inventor. Se continuasse no Brasil, provavelmente estaria recebendo um salário ridículo como professor universitário e não teria um laboratório decente para trabalhar. Por aqui, 80% da pesquisa é feita pelas faculdades (trata-se, majoritariamente, de uma pesquisa burocrática e inútil). E apenas 20% da pesquisa nacional está nas mãos da iniciativa privada. Nos Estados Unidos, ocorre o contrário. Isso é ruim para o Brasil. "A experiência mostra que em todas as economias desenvolvidas, onde há elevado grau de inovação, são as empresas, e não a universidade, as maiores responsáveis pela pesquisa", constata Carlos Henrique de Brito Cruz, reitor da Universidade Estadual de Campinas. O químico carioca Carlos Khalil também faz parte da turma dos cientistas-inventores. Ele desenvolveu um processo de desentupimento de oleodutos em grandes profundidades. A tecnologia criada pelo químico rendeu milhões à Petrobras, onde ele trabalha, e vem sendo empregada em vários países do mundo. "Sinto-me um privilegiado por poder ver minhas descobertas sendo aplicadas no mundo real, o que nem sempre acontece a um pesquisador acadêmico", celebra Khalil. A Petrobras é a empresa brasileira que mais registra patentes, à razão de uma a cada quatro dias. Como ela consegue? "Investimos 240 milhões de dólares por ano nisso, mantemos convênios com 232 universidades e institutos de pesquisa e empregamos 750 cientistas na companhia", informa Elias Menezes Oliveira, gerente executivo do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da estatal brasileira. Moral da história: inovar rende fortunas, mas custa caro. Fala-se muito que o brasileiro é um povo criativo. Por que, no entanto, somos um dos países do mundo que menos registram patentes? Talvez isso se deva à falta de uma cultura criativa, como existe nos Estados Unidos, pátria do maior inventor de todos os tempos, Thomas Alva Edison. Lá, idéias valem dinheiro – e o estímulo do dinheiro potencializa as novas idéias, mecanismo que faz girar a roda do capitalismo. "A maior parte das empresas brasileiras não sabe lidar com a inovação. Nos Estados Unidos, todas têm departamentos para analisar a viabilidade de novos projetos. No Brasil, muitas vezes as boas idéias caem no vazio", diz Antonio Carlos Teixeira da Silva, consultor na área de criatividade. Os brasileiros apenas engatinham na área da criatividade empresarial. Por aqui, a expressão "novos projetos" designa em geral omeletes montadas a partir de sobras de outros pratos guardadas na geladeira, como se isso constituísse grande novidade. O americano Hitendra Patel, sócio do Monitor Group, consultoria estratégica ligada à Universidade Harvard, aponta três traços da cultura brasileira que dificultam a inovação. A enorme burocracia para abrir novos negócios. O ambiente excessivamente hierarquizado nas grandes empresas, onde o profissional tem de passar por vários níveis antes de apresentar suas idéias. E o fato de não valorizarmos tanto os modelos de inovação e sucesso. "Nos Estados Unidos, quando alguém é bem-sucedido numa área, ele passa a ser admirado. No Brasil, muitas vezes a primeira reação das pessoas é de desconfiança, como se o sucesso se devesse não ao mérito, mas à amizade de poderosos. O culto aos modelos de sucesso é importante para um ambiente de inovação", afirma Patel. O brasileiro é visto no mundo como um povo criativo, graças a nossos cartões de visita culturais – o futebol e a mistura musical de ritmos. Nesses campos, não por coincidência, o talento vale muitíssimo mais do que a tática e a estratégia. Fora dessas áreas, falta remover entraves – sobretudo de mentalidade. Só então um grau significativo de criatividade chegará à empresa e à universidade. Isso contribuiria para que o país exibisse um dinamismo econômico proporcional à capacidade de seu povo de ter boas idéias. DICAS PARA SER MAIS CRIATIVO • Nunca se contente com a primeira idéia que lhe ocorrer. Busque outras para, entre muitas, escolher a melhor • Não se acomode. Sempre existe uma maneira de fazer melhor, mais rápido ou com menor custo aquilo que você já faz. Se você não pensar nisso, alguém irá pensar • Seja curioso. Evite reproduzir tarefas mecanicamente. Busque as causas, os porquês, as implicações. Muitas idéias surgem daí • Idéias não saem do nada. Associe, adapte, substitua, modifique, reduza. As combinações são infinitas • Não acredite em bordões como "isso nunca vai funcionar" ou "em time que está ganhando não se mexe". O novo sempre assusta. Toda idéia tem de quebrar resistências • Tenha iniciativa. Muitas boas idéias acabam no fundo da gaveta porque seus autores não tomam a decisão de mostrá-las aos outros • Ouça os outros. Principalmente se eles pensam diferente de você. As idéias se desenvolvem com a divergência • Faça de vez em quando coisas que contrariem seus hábitos, no trabalho ou no lazer. Por exemplo: se você gosta de filmes de ação, assista a um drama romântico. Se é fã de rock, tente o jazz. Sair da rotina é sempre estimulante para o cérebro A advogada Luciana Rosanova Galhardo é sócia do escritório Pinheiro Neto, um dos mais conceituados de São Paulo. Participou da equipe que cuidou da burocracia da instalação de uma montadora Renault no Paraná, em 1997. Após a instalação, a Renault brasileira teria de pagar à matriz francesa pelo serviço prestado – e sobre esse dinheiro seria recolhido imposto de renda. Debruçando-se sobre os tratados comerciais entre Brasil e França, Luciana descobriu um detalhe segundo o qual uma companhia brasileira que paga a uma empresa francesa por prestação de serviços está isenta de imposto. Seria um caso de bitributação, já que a empresa francesa já paga imposto em seu país. Graças à interpretação de Luciana, a Renault economizou uma quantia considerável e os tratados do Brasil com a França foram modificados para não permitir mais a brecha. O brasiliense Adriano Sabino é formado em administração de empresas, com pós-graduação na França. Iatista amador, teve a idéia de usar um material auxiliar na flutuação de veleiros – a espuma de polietileno – para fabricar bóias para crianças. "Percebi que era um material mais higiênico, porque não acumula bactérias, e seguro, pois continua flutuando mesmo quando é furado", diz Sabino. Ele criou o espaguete de piscina e patenteou o produto. Em seguida, abriu uma empresa para comercializá-lo – a Toy Power –, que já vendeu cerca de 2,5 milhões de unidades de sua invenção. Hoje, a empresa desenvolve brinquedos em várias áreas e ensaia parcerias com fábricas da Suécia e da Alemanha. Os paulistas Wilson Maciel Ramos e Márcio Zapparoli trabalham na companhia de aviação Gol, respectivamente como vice-presidente e gerente financeiro. No ano passado, a Gol queria ganhar clientes entre pequenas empresas, mas esbarrava num problema. Não tinha estrutura para avaliar quais eram boas pagadoras, num mercado com alto índice de inadimplência. Encarregados de resolver o problema, Wilson e Márcio tiveram a idéia de fazer uma parceria com um banco, para lançar um cartão de afinidade, e com uma rede de hotéis, para conseguir descontos em diárias. Com isso, criaram um serviço de viagens para oferecer a empresas. O melhor de tudo: o banco se encarregaria de administrar o crédito. O ovo de Colombo fez com que a Gol dobrasse o número de clientes no segmento em 2002. O químico carioca Carlos Khalil trabalha na Petrobras há 23 anos, e é considerado um dos grandes inventores da empresa. De seu laboratório já saíram mais de trinta patentes. Entre elas, destaca-se a do processo químico desenvolvido por ele para desentupir oleodutos em grandes profundidades. Sua tecnologia, patenteada em 1997, vem sendo aplicada em vários países, como Argentina, Espanha e Noruega. "Aumentando periodicamente a vazão dos tubos, há um crescimento da produtividade. Isso significa que a invenção de Khalil é responsável pelo acréscimo de alguns milhares de dólares à receita da Petrobras", diz Elias Menezes Oliveira, que responde pelo departamento de pesquisas da empresa. Eliane Macari, paulista de Campinas, trabalha na área de marketing da multinacional americana 3M, baseada em Sumaré (SP). Ela foi posta diante de um desafio: vender produtos da empresa para cozinhas industriais. Em vez de apenas criar uma campanha de marketing, Eliane resolveu conhecer a fundo seu público-alvo e fez uma descoberta que mudou tudo. Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, onde elas são 100% mecanizadas, as cozinhas industriais brasileiras trabalham com vários funcionários. Sua idéia foi desenvolver uma nova linha de produtos para eles: aventais, toucas, luvas protetoras etc. Graças a sua iniciativa, Eliane criou um novo negócio dentro da 3M. Como recompensa, além de prêmios internacionais, passou a chefiar a área a que ela própria deu origem. O carioca Henrique Malvar, 45 anos, é engenheiro elétrico com pós-graduação no MIT, Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Até 1993, dava aulas na Universidade de Brasília. Foi quando recebeu um convite para trabalhar nos Estados Unidos, na PictureTel, uma empresa fundada por ex-colegas do MIT. Lá, Malvar desenvolveu uma câmera para transmissão de videoconferências que focalizava automaticamente o ponto de onde vinha a voz. O invento rendeu milhões para a companhia e prestígio para o seu autor, que em quatro anos já era vice-presidente da PictureTel. Graças a seu currículo, Malvar foi contratado pela Microsoft. Hoje, ele mora em Seattle e chefia uma equipe que desenvolve novas tecnologias para a empresa de Bill Gates.