quarta-feira, junho 15, 2005

A maravilha de se estar solteira aos 25

A revista TPM é um luxo, a melhor revista feminina do país. Nunca me arrependo de comprar mais uma edição. Pelo contrário. Sempre me pergunto por que ainda não assinei a bendita. A sensação agora é a mesma, talvez até um pouco melhor. Desta vez, só quero saber por que demorei 15 dias pra comprar a edição de junho. Enfim, vamos aos fatos.

A chamada de capa me chamou a atenção: "Por que ainda precisamos desesperadamente casar?" Esse assunto tem me perturbado bastante nos últimos tempos. Não que eu queira me tornar uma dona patroa. Não agora, pelo menos. E juro que não deixei a imagem de Santo Antônio de ponta cabeça no último dia 13. O que tem me incomodado, e muito, é o aumento da cobrança. Estou há quase dois anos sem namorado (fixo, é claro) e meus tios mostram-se cada vez mais preocupados comigo e aflitos com essa minha condição de moça sozinha. Por quê? Se todos experimentassem me deixar um pouco em paz e, em vez de fazer perguntas idiotas, pagassem uma parte das minhas contas (as mensalidades da pós-graduação já estaria de bom tamanho), minha conta bancária estaria bem menos vermelha. E as festinhas de casamento, então? De dezembro pra cá, fui em três. Adoro casamentos, choro em todos, a marcha nupcial, de verdade, me arrepia, mas eu juro, em nenhuma das três festinhas passei ilesa. Sempre tinha o engraçadinho pronto pra fazer o comentário sacal: “a próxima é você, hein”. Irritante! Gi, minha amiga, você é que está certa. Melhor evitar esse tipo de evento social.

Mas voltando à revista, um texto em especial me tocou e já me convenceu que eu não poderia ter empregado melhor os meus R$7,50. Ele conseguiu traduzir em palavras muito do que tenho sentido, do que tenho pensado e do que considero que vale a pena acreditar. A identificação foi grande, a tal ponto que conseguiu me tirar da cama enquanto lia e me fez pular no computador para reproduzi-lo aqui. Talvez mais gente esteja precisando ler também. Sei lá.

A autora é Antonia Pellegrino, roteirista da novela “A lua me disse”. O título é “Non-stop emotion” e o texto diz assim:

“Aos 25 anos, estar solteira não é um entreato do amor, mas uma maravilha. Espécie de carnaval fora de época em que não existe o último beijo, o último gole, o último grito. É não ser responsável e ter que responder por isso, non-stop emotion, living la vida loca. Não sei se sob outras condições eu seria tão categórica ao dizer: sim, estou solteira e feliz. Quem se ajoelha no altar do amor, dele não se levanta com facilidade. O amor é um deus exigente e vaidoso, cada flechada do cupido vale o vício sublime de amar e a sentença do exclusivismo. E o melhor de ser solteira é não louvar um só deus.

Para o coração vagabundo do solteiro amor é moda, é passageiro, é consumista. Breve, sem promessas de eternidade. O sexo é sexo. Seja com desenvolvimento de trama, “e aí”, sexo com narrativa. Ou seja, grátis e por hoje, fútil, feito sob encomenda para quem deseja se casar num outro cartório, trocar alianças com o trabalho.

Se você der sorte, aquele momento em que todos a elogiam, momento este em que você encanta Vênus de frente, acontece enquanto você estiver solteira. Espécie de boom econômico, do dia pra noite você administra inúmeros gatinhos. Aproveite, isso é uma fase – ninguém tem saúde para manter o tom arerê tão lá em cima.

Se você tiver disciplina, saberá reverter a energia ora dispensada num relacionamento em cultivo de si, em capitais próprios e inalienáveis, necessários à construção do que há de mais fascinante em qualquer pessoa: um universo.

Estar solteira é uma fase, um estado. Um estudo da diversidade de emoções que os outros suscitam. A boa solteira faz uma vanguarda de si mesma. Experimenta-se. E, nesse processo de descobertas, paradoxalmente, torna-se mais afinada ao próprio desejo de amor. De alguma forma, estar solteira é um treino para a maratona do amor... Que virá. Amor é vício, ninguém agüenta longas jornadas em falta, dá crise de abstinência.”

P.S. E sim, eu tenho 25 anos. Aliás, essa fase dos vinte e poucos é, como diria a minha amiga Gi, elegante.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Lalu, depois que vc começou a dar um tom mais pessoal, com textos baseados nos seus sentimentos, o seu blog ficou mais interessantes.
PS : Quanto a matéria da TPM devo dizer que também sou frequentemente abordada com a pergunta " e aí já casou". E já ouvi isso muitas vezes, afinal estou com os pés nos 27 anos. Agora que sou noiva, então ... não aguento mais. Então vou usar esse espaço para dar um recado : " QUANDO EU CASAR MANDO AVISAR Á TODOS, ENQUANTO ISSO ME DEIXEM EM PAZ"... HEHE
BEIJOS

16 junho, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Lisbon Revisited(1923)

Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências(das ciências, Deus meu, das ciências!)
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!
Sou técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.

Fora disso sou doido, com todo o direito de sê-lo.
Com todo o direito de sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim.
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço.Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul-o mesmo da minha infância -
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Fernando Pessoa, Ficções do Interlúdio: poesias de Álvaro de Campos

Esta poderia ser uma boa resposta aquelas pessoas que vivem querem colocar "pesos"(cobranças de velhas tradiçoes) nas costas dos outros.
Beijos
Adoroce tb.
Frank

22 junho, 2005  

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